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Foto do escritorDaniel Aleixo

Inspirações para o KRAKEN (polvo)



Trechos retirados do livro "Outras mentes: o polvo e a origem da consciência", do Peter Godfrey-Smith, acompanhados de reflexões que anotei durante a leitura.

Bom proveito!


"O sistema nervoso surgiu da internalização da sensação e da sinalização; e a internalização da linguagem como ferramenta do pensamento foi outra. [...] Um sistema nervoso grande evolui para lidar com a coordenação do corpo, mas o resultado é de tal complexidade neurológica que, posteriormente, outras aptidões surgem como subprodutos - ou acréscimos relativamente fáceis - daquilo que as demandas da modelação de ação construíram. Eu disse "ou" - subprodutos ou acréscimos -, mas, decididamente, é um caso de "e/ou". Algumas capacidades - reconhecer um indivíduo, por exemplo - podem ser subprodutos, enquanto outras - resolver problemas - resultam da modificação evolucionária do cérebro em resposta ao estilo oportunista de vida do polvo."


Cognição incorporada - a ideia central é de que nosso próprio corpo, e não o nosso cérebro, é responsável por parte da 'inteligência' com que lidamos com o mundo. A própria estrutura corporal codifica informações sobre o entorno e como temos de lidar com ele; assim, nem toda a informação é armazenada no cérebro."

*

* No caso do polvo, a cognição incorporada é altamente volátil devido a sua forma corporal ser tão adaptável; os atritos e contato com outros corpos no entorno o impedem de reconhecer plenamente o ambiente e as informações exatas de cada objeto. Não há distância exata entre os membros do corpo de um polvo, que pode se esticar e atrofiar indefinidamente. Uma outra visão é de que o polvo, na verdade é desincorporado. Esta palavra faz com que ele pareça imaterial, o que, obviamente, não é verdade. Pode-se dizer que o polvo, por ser multiforme, é TODO POSSIBILIDADE, não tem nenhum dos custos e dos ganhos de um corpo que impõe limites e que leva à ação. O polvo vive fora da divisão usual entre corpo e cérebro.



"Até certo ponto, a unidade é inevitável em um agente vivo: um animal é um todo, um objeto físico que se mantém vivo. Em outros aspectos, porém, a unidade é opcional, uma conquista, uma invenção. Reunir a experiência em um dado único - mesmo as visões de dois olhos - é algo que a evolução pode fazer ou não.''

*

* Pela experiência fragmentária de outros animais, percebemos que o ser humano conquistou a unicidade através de um processo longínquo e duradouro que partiu de um amontoado de organismos independentes entre si e fragmentários que, aos poucos, foram se unindo sensorialmente. O polvo, por sua vez, mantém uma unicidade física, no entanto, não possui cérebro centralizado - os milhões de neurônios estão espalhados pelo corpo, principalmente nos tentáculos, tornando-o um ser de entendimento predominantemente tátil - o que faz dele um ser com membros interdependentes. O cérebro não é o líder, mas sim quem media as relações entre membros. Se o cérebro humano é um maestro de música clássica e o cérebro do polvo é um compasso de jazz.

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